Quero chorar um rio. Derramar uma enxurrada de dores, uma catarata de coisas guardadas. Quero me sentir esvair, esvaziar. Expurgar cada gota de sofrimento, cada gotícula de desamparo. Dar vazão a todo esse universo de desventuras e amores não correspondidos. Quero dissolver em meio as minhas lágrimas. Me perder no mar que se formará quando os meus rios encontrarem os teus. Vamos saborear o sal dos nossos desafetos, se deixar levar pelas ondas dessa maré de coisas quebradas.
JUNTOS PODEMOS NAVEGAR PARA O INFINITO
Mergulharemos, prenda a sua respiração, segure o fôlego. Vamos fundo, nadando o mais rápido possível para o frio abissal. Observe os corais, observe as cores, as anêmonas e os peixes-palhaço, os namorados, os baiacus. Me siga, sinta nossos corpos entrelaçados em água chegarem ao fundo do oceano de nosso sangue ocular. Observe as estrelas e o amor das baleias, o plâncton e os lagostins.
JUNTOS PODEMOS NOS PERDER
A escuridão fria me parte, me reparte me empurra e me estoura. A pressão de ir tão fundo me congela. Não te acho, não te vejo, mas não me perco, jamais me perco. A sua quimiotaxia me inebria e me guia. Lembra quando eu disse que ficaríamos juntos até que nossos corpos se transformassem num só? Já não consigo diferenciar meus átomos dos teus. Estamos cegos e fluorescentes, frios e quentes, no negro universal que encontramos na infinidade de possibilidades da vida.
JUNTOS PODEMOS SER UM SÓ
NU
INFINITO
Um comentário:
Onde nós estávamos quando tudo começou? O tempo, desde então, aparece quase sempre na forma de um passado ou futuro, como se o presente fosse sensível à mais sutil mudança dos ventos. A ausência de coragem facilita a fuga dos corpos aos limites mais distantes da consciência, ainda que não seja grandiosa a covardia de quem sai de si para si, quando a intenção é apenas suspender o peso do instante, substituir o que existe fora para o invisível que habita atrás da carne e do osso, ar rarefeito, alimento do amor e ele próprio, fragmentado, em expansão, desde o princípio, matéria de tudo o que vem depois. E naqueles dias em que nascia o universo, houvessem ou não planetas, existissem ou não estrelas, ele era um eterno novembro, o big-bang contido entre dois olhares e com ele a força e o mistério da vida. O que éramos quando tudo começou? Éramos o que ainda somos, com a mesma saudade que sabe da finitude do nosso tempo, desses corpos que não transcendem a vontade de sermos apenas, e para sempre, jovens. Apenas, e para sempre, um só.
Um só perdão.
Um só olhar.
Um só amor.
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