terça-feira, 12 de julho de 2011

Victoria Amazonica


A noite caiu mais rápido do que se esperava, a lua cintilava nas folhas verdes que metricamente cobriam a paisagem ao redor. Ao longe, um pedaço negro de céu escorria por entre a terra, deixando nuvens prateadas ao se chocar com as pedras. Tudo era calmo naquele turbilhão de sons... grilos, folhas, animais pequenos, água, todos a ocupar com maestria seus papéis na orquestra da noite. Mas algo resolveu perturbar aquela imensidão de calma, pés pequenos tocavam a terra, e aproximavam-se lentamente, floresta adentro. O vento forte espalhava as lágrimas, que como orvalho, tocavam as flores e plantas escondidas no breu, que a lua enorme e branca não conseguia clarear. Os lábios serrados, silenciosos, as mãos separadas, os dedos a esbarrar na mata, os pés descalços a marcar o solo. Nessa marcha fúnebre, em direção a margem da pantera negra a rachar as pedras, a figura vestida de luar caminhava. Uma luz, uma Deusa a farfalhar na água. Mais alguns passos, o frio, a coragem, o amor desesperado. Seduzida pelo brilho, a pobre atira-se nas garras do negro rio, desfalece em meio as águas gélidas. E desse nobre sacrifício, brotam hoje belas flores brancas, com o perfume divino, do amor não-correspondido.

Um comentário:

Fernando Nectoux disse...

Um dos teus textos mais minuciosos, detalhistas. Curto, mas excelente.