sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Primavera


Começa a graciosa valsa das feras
os olhares lascivos se encontram
troncos vermelhos cobertos por heras
no leito onde os trovões estrondam

O desabrochar ao primeiro toque
entregando o perfume das flores
seiva bruta que na pele escorre
aquecendo em um milhão de cores

Gemidos que na terra germinam
arranhando as pedras ao passar o rio
onde as folhas despojam

Na fonte rubra jorra a semente
em silêncio a floresta enternece
terminado a dança concupiscente


quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Tóxico


Sou um isótopo radioativo
Constante nas minhas inconstâncias
Uma explosão, um delírio
Um mártir dos céus descabidos
Conflagrando as próprias chamas

Rasgando o firmamento em dois
Com um rastro vermelho de raiva
Frio ainda que quente sois
Sendo, agora e depois
Em nébula aurora paira

Desapareço em antagônica flecha
Envenenando em raios gama
Trincando a terra em brecha
Escapo, fluído, em flores.


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Não Sou Popular


Saio na rua. Todos me olham, me revistam, me procuram. Me sinto altamente vigiada a cada segundo da minha vida, como se todos os satélites e câmeras estivessem voltados para mim, sem piedade, all day. Todos querem usar as minhas roupas, imitar o meu cabelo, comprar o mesmo carro, o mesmo perfume, querem respirar meu ar... Recebo presentes caros, importados. Todas as grifes do mundo me almejam, eles querem me vestir com o alto da mais alta costura, para desfilar nas ruas de Paris, Milão, Tókio. Bebo vinhos caros, séculos de maturação, champanhes, néctares. Colho da árvore mais frondosa e como da carne mais macia, cozida pelo Chef mais talentoso. Garotos e garotas fazem filas quilométricas só para estar comigo, multidões se amontoam quando eu passo - Céus, não consigo acreditar em meus olhos! Todos sabem quem eu sou.

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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Spera



O sinal toca o corpo cansado
Palavras e sonhos envoltos em luz
O mártir anseia o pecado
A noite a todos conduz

Tempo corre, tempo passa
Armados seguimos em prece
Distante observa-se a caça
A escuridão entontece

Imerso no completo caos
No limítrofe entre ver e sofrer
Tentando guiar desordenada nau

Eu vou, seguindo a ventania
Vestindo vistosa seda verde
Perante a dor que se avizinha


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Catarse


Quando as pessoas olham para você elas não te vêem, entre os mortos e feridos todos previnem-se de uma nova guerra, ninguém quer mais sofrer. Na próxima esquina, a distância se torna uma aliada, o desvio, um amigo, as poucas palavras são o pão de todo dia, e na verdade, o que não se percebe é que outro campo de batalha foi criado.

  Pessoas vazias vestidas com suas melhores roupas continuam vazias, mas ninguém quer mais sofrer.

  Vivemos encantamentos passageiros, sonhos superficiais, mentiras bonitas. Uma noite falsa, para falsos amantes, mas uma morte verdadeira aos que merecem morrer. E onde estará o sol? Para encerrar as desventuras dos amores não-correspondidos, para fazer fotossintetizar a matéria prima de um novo amor, de verdade.

  Pessoas se tornam passado. Passou.


quarta-feira, 13 de junho de 2012

εμπειρικός


Uma noite quente, mas nada me impede de tomar meu café bem fervido, e contemplar a fumaça rítmica que enlaça a si mesma na borda da minha xícara de cor marrom. Música romântica tocando na rádio, voz aguda, doce, feminina. Diversos poemas flutuam em minha cabeça. Meu telefone toca, meio descrente digo: "Mais uma mensagem de amor". E não é que estava certo? Algo sobre o amor das fênix. Dou uns goles no café. Preciso me focar e terminar o texto. Eu gosto de escrever, tenho um amor pelas palavras, é o meu fetiche. Sempre quis uma estante, abarrotada, que como mais um dos meus sonhos "ignóbeis" de infância, foi ignorado. Tive uma máquina de datilografar, é verdade. Achei perdida na casa da minha avó, se tornou minha melhor amiga por bons tempos, até acabar a fita. Escrevi muita besteira nela, e apesar de ter meios mais modernos de escrever, sinto saudades. Tropecei muito, estou cheio de marcas que não me deixam esquecer as dores das bobagens que já dedilhei. Eu gosto, sou meio masoquista nesse sentido, no final, é tudo apenas uma forma um pouco mais dolorosa de aprendizado. Erro e acerto. Tão obsceno, antiquado, pré-histórico, e tão certeiro. Detesto errar, não nego, mas reconheço sua importância diante da vida. Um tanto quanto empírico, não? 

terça-feira, 12 de junho de 2012

Eis-me


  Bem, andei meio afastado daqui, motivos? Falta de inspiração talvez. Para sorte (superestimando-me) de vocês, estou de volta, o que não é lá um bom sinal pra mim, já que muitas das minhas motivações para escrever são minhas desventuras emocionais, as mesmas de qualquer escritor de botequim. Preciso desabafar, desculpem, mas nem sei por onde começar, é um desafio pra mim expor meus sentimentos assim, sem metáforas, poemas bobos, ou qualquer coisa que esconda minha fragilidade e deixe-me apenas parecer alguém sensível a realidade alheia. Não me recriminem se eu acabar não dizendo nada, por favor, aprecie apenas a escrita se assim for.
  

Relacionamentos Sem Futuro



Eu fui sugado, subjugado, domado. Minhas forças foram subtraídas, numa relação unilateral de coringas e reis. Fui utilizado como degrau, para outra pessoa se reafirmar diante de mim, e de si mesma. Não passei de uma peça de xadrez, utilizado em um tabuleiro com um propósito maior por detrás de tudo. Embora tenha feito tantas juras a mim mesmo, tantas palavras ditas entre lágrimas de raiva e dor... palavras vazias, já que me pego passando por algo que jurei nunca mais deixar acontecer. Me sinto fracassado, por não ter visto aquilo que estava na minha cara, por não ter agido da forma com a qual sempre me cobro, e por reincidir no erro bobo de acreditar demais nas pessoas. O pior, é lembrar de todas as palavras falsas trocadas comigo, que não passaram de jogadas inescrupulosas contra a minha humanidade, minha empatia, a capacidade que eu tenho de gostar, de amar alguém. Acho que somente para mim, essas palavras tiveram algum sentido, ou foram verdade, porque tudo que eu disse, tudo que eu proferi foi verdade, não tenho necessidade de mentir com sentimentos tão verdadeiros, que vem das minhas entranhas, do meu corpo, que acreditava piamente em mentiras ditas por uma boca açucarada e 'inocente'. Agora que já não satisfaço mais as suas necessidades, fui exonerado do cargo, assumido agora, por pessoas mais interessantes, e que te bajulam melhor do que eu. Sinto muito se não funciono mais ao seu propósito, infelizmente eu não sabia do risco que eu corria ao me despir diante de você, no ato mais íntimo da metáfora. Não vou te dizer que espero que seja feliz com seus novos amigos, não vou ser hipócrita, você está entalado na minha garganta, eu quero mais é que você se exploda, e leve com você, toda sua falsa modéstia, todas as mentiras que me disse, a forma sonsa que você me tratou, e principalmente, essa sua maneira idiota de lidar com a verdade que lhe é dita! Aposto que vai arranjar uma maneira de se vitimar com esse texto, e dizer que eu sou o causador de todos os males da sua vida, e que vida né? Pode continuar com ela, pois de mediocridade, pra mim já basta.