sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

QUANDO TU DIZ QUE ME QUER

Quero chorar um rio. Derramar uma enxurrada de dores, uma catarata de coisas guardadas. Quero me sentir esvair, esvaziar. Expurgar cada gota de sofrimento, cada gotícula de desamparo. Dar vazão a todo esse universo de desventuras e amores não correspondidos. Quero dissolver em meio as minhas lágrimas. Me perder no mar que se formará quando os meus rios encontrarem os teus. Vamos saborear o sal dos nossos desafetos, se deixar levar pelas ondas dessa maré de coisas quebradas.

JUNTOS PODEMOS NAVEGAR PARA O INFINITO

Mergulharemos, prenda a sua respiração, segure o fôlego. Vamos fundo, nadando o mais rápido possível para o frio abissal. Observe os corais, observe as cores, as anêmonas e os peixes-palhaço, os namorados, os baiacus. Me siga, sinta nossos corpos entrelaçados em água chegarem ao fundo do oceano de nosso sangue ocular. Observe as estrelas e o amor das baleias, o plâncton e os lagostins.

JUNTOS PODEMOS NOS PERDER

A escuridão fria me parte, me reparte me empurra e me estoura. A pressão de ir tão fundo me congela. Não te acho, não te vejo, mas não me perco, jamais me perco. A sua quimiotaxia me inebria e me guia. Lembra quando eu disse que ficaríamos juntos até que nossos corpos se transformassem num só? Já não consigo diferenciar meus átomos dos teus. Estamos cegos e fluorescentes, frios e quentes, no negro universal que encontramos na infinidade de possibilidades da vida.

JUNTOS PODEMOS SER UM SÓ

NU

INFINITO

Um comentário:

Atlas disse...

Onde nós estávamos quando tudo começou? O tempo, desde então, aparece quase sempre na forma de um passado ou futuro, como se o presente fosse sensível à mais sutil mudança dos ventos. A ausência de coragem facilita a fuga dos corpos aos limites mais distantes da consciência, ainda que não seja grandiosa a covardia de quem sai de si para si, quando a intenção é apenas suspender o peso do instante, substituir o que existe fora para o invisível que habita atrás da carne e do osso, ar rarefeito, alimento do amor e ele próprio, fragmentado, em expansão, desde o princípio, matéria de tudo o que vem depois. E naqueles dias em que nascia o universo, houvessem ou não planetas, existissem ou não estrelas, ele era um eterno novembro, o big-bang contido entre dois olhares e com ele a força e o mistério da vida. O que éramos quando tudo começou? Éramos o que ainda somos, com a mesma saudade que sabe da finitude do nosso tempo, desses corpos que não transcendem a vontade de sermos apenas, e para sempre, jovens. Apenas, e para sempre, um só. 

Um só perdão.
Um só olhar.
Um só amor.